quarta-feira, 20 de junho de 2012

China e Índia acertam parceria para atuação global

Fonte: Valor Econômico
Autor: Rakesh Sharma | The Wall Street Journal, de Nova Déli

As maiores empresas petrolíferas da Índia e da China fecharam acordo para explorar conjuntamente petróleo e gás natural em todo o mundo. Trata-se de uma tentativa de pôr de lado uma longa rivalidade e fazer melhor uso dos seus conhecimentos e recursos financeiros para garantir o suprimento de combustível às suas economias em rápido crescimento.

Embora os dois países deficientes em energia já trabalhem juntos em projetos internacionais de petróleo, eles têm um histórico de relações ruins e de propostas de alianças para comprar ativos estrangeiros e petróleo bruto que na maioria das vezes não vingaram.

De acordo com pacto preliminar assinado segunda-feira entre a estatal indiana Oil & Natural Gas Corp. e a chinesa National Petroleum Corp., elas vão explorar conjuntamente ativos em outros países, consolidando parcerias existentes em Mianmar, Síria e Sudão.


A ONGC informou em uma declaração por escrito que as empresas também concordaram em ampliar a cooperação no refino e processamento de petróleo bruto e gás natural, na comercialização e distribuição de produtos petrolíferos e na construção e operação de gasodutos e oleodutos.

"Achamos que é melhor cooperar do que competir", disse Dinesh Sarraf, diretor-gerente da ONGC Videsh Ltd., braço de investimentos internacionais da ONGC.

O presidente do conselho de administração da ONGC, Sudhir Vasudeva, disse no mês passado que quer crescer através de parcerias e vai garantir alianças para as áreas e tipos de recursos, incluindo exploração em águas profundas e de gás natural encontrado em formações rochosas de xisto.

A China tem se saído melhor do que a Índia em adquirir participações em ativos de petróleo e gás em todo o mundo, muitas vezes fornecendo grandes empréstimos e financiamentos para projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento para garantir o fechamento de acordos pelas quatro petrolíferas estatais chinesas, a maior das quais é a CNPC e sua unidade de capital aberto, a PetroChina Co.

As tensões entre Índia e China decorrem de antiga disputa de fronteira no Himalaia; da decisão da Índia de acolher o líder espiritual tibetano, o Dalai Lama; e do apoio da China ao Paquistão. As relações pioraram em 2011 por causa da briga de soberania no Mar da China Meridional, grande parte do qual é reivindicado por Pequim.

A ONGC, que vem explorando o Bloco 128 na costa do Vietnã, foi duramente criticada pela China no ano passado por supostamente violar a soberania chinesa - uma acusação que Hanói rejeita. No mês passado, o vice-ministro do Petróleo da Índia, R.P.N. Singh, disse que a empresa vai devolver o bloco para o Vietnã. Mas não está claro se essa decisão fará parte do novo acordo entre os dois países.

Em janeiro de 2006, o ministério do Petróleo da Índia e a agência chinesa de planejamento econômico, a Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, assinaram um pacto preliminar de cooperação bilateral para o petróleo, incluindo possíveis compras conjuntas de petróleo bruto. Mas, cinco anos depois, Singh admitiu que o progresso havia sido pouco e que "não houve compartilhamento de informações sobre compras de petróleo bruto por parte das empresas petrolíferas dos dois lados".

A Índia não tem sido muito aberta às empresas chinesas que investem em energia ou telecomunicações, citando preocupações de segurança, embora fabricantes chinesas de equipamentos para a geração de eletricidade tenham sido bem-sucedidas na Índia.

Entre os projetos nos quais a ONGC Videsh está trabalhando com a CNPC está um gasoduto para transportar gás a partir da Baía de Bengala, em Mianmar, atravessando toda a Índia até o sudoeste da China. O gasoduto deverá estar concluído no próximo ano.

Os dois países trabalham em conjunto na Síria, onde detêm participações combinadas em 36 campos produtivos, bem como no Sudão, embora a produção de petróleo tenha sido interrompida devido a conflitos militares entre o Sudão e o Sudão do Sul.

Tanto a CNPC como a ONGC estão entre as empresas que manifestaram interesse em construir um oleoduto que unirá o sul do Sudão à costa leste africana no Quênia, para evitar a rota de exportação tradicional pelo norte.

Nipun Sharma, um analista da Mirae Asset, de Hong Kong, diz que o acordo mais recente parece ser apenas uma renovação de um pacto de exploração já existente. "O pacto anterior resultou em um punhado de projetos, incluindo um no Sudão", disse Sharma. "Desta vez, se os dois países forem capazes de alinhar melhor seus interesses econômicos e políticos, poderíamos ver projetos de exploração combinados no futuro próximo.

As petrolíferas da Índia buscam parcerias no exterior com outras grandes empresas do setor para ter acesso a tecnologia que pode ajudá-la a aumentar a produção e ampliar sua presença geográfica. (Colaborou Simon Hall, de Pequim.)

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