quarta-feira, 13 de junho de 2012

Falta de consenso marca início da Rio+20


Fonte: Correio Braziliense
Autor: Guilherme Amado


A conferência será aberta oficialmente às 11h pela presidente Dilma Rousseff. Até sexta-feira, antes da chegada dos chefes de Estado, as delegações dos 193 países membros da ONU debaterão propostas e projetos para o desenvolvimento sustentável. Algumas questões, como as metas para adoção de energias limpas, devem dificultar os acordos.

Representantes dos países membros da ONU iniciam rodada de negociações na busca de um acordo ambiental. Mas questões como fontes de energia limpa ainda são conflitantes. Ministros brasileiros apostam na discussão de medidas de médio e longo prazo

Rio de Janeiro — A Rio20 começa hoje com a abertura da última rodada formal de negociações diplomáticas, em que, até sexta-feira, representantes dos 193 países membros da ONU tentarão chegar a consensos em torno do documento que será assinado pelos chefes de Estado nos três últimos dias do evento. A presidente Dilma Rousseff abrirá oficialmente, às 11h, o Pavilhão do Brasil na Rio20. Entre impasses que se estendem há meses, a expectativa do governo brasileiro é que o simbolismo da conferência e a presença no Rio, vinte anos após a Eco-92, contribuam para o surgimento de convergências.

Até agora, elas são poucas. "Concordâncias gerais existem, o problema é quando se entra no como fazer", resumiu ontem um diplomata ao Correio. Existe consenso, por exemplo, sobre a necessidade de se criar metas gerais para os países. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), inspirados nos Objetivos do Milênio, devem versar sobre temas como energia, erradicação da fome e água. O que falta decidir é quantos objetivos devem existir e sobre quais assuntos. Países como a Inglaterra, por exemplo, cuja matriz energética depende de combustíveis fósseis, teimam em aceitar que haja uma meta de adoção de fontes de energia limpa.

A exemplo dos ODSs, também é de comum acordo que seja incrementado o aparato das Nações Unidas em torno da sustentabilidade, hoje restrito ao fraco Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Sem orçamento próprio, dependente de doações, o Pnuma pode ser substituído por uma agência ambiental, nos moldes da Organização Mundial do Comércio (OMC), ou ficar mais robusto, com recursos de maior volume. O Brasil trabalha pela segunda opção.

O esforço dos ministros Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, e Antônio Patriota, das Relações Exteriores, que dividem a organização do evento, é afastar o fantasma do fracasso. "Os países concordam que o patamar atual de padrões de consumo e a forma de lidar com os recursos do planeta não podem se perpetuar. Esse ponto de partida já é uma grande conquista", pondera um integrante da delegação brasileira. Patriota ressaltou ontem, no Riocentro, outra virtude da Rio20. "Estamos vendo (países da) periferia propor soluções para (países do) centro. A periferia, de certa forma, virou centro."

Izabella Teixeira afirmou que é impossível a Rio20 retroagir em relação ao legado da Eco-92, crítica da Cúpula dos Povos, evento paralelo da sociedade civil que rompeu com a conferência e começa na sexta-feira. "Não vamos permitir rever o legado de 92", garantiu a ministra, que disse não haver incoerência nas ações do governo em reduzir o Imposto sobre o Produto Industrializado (IPI) para carros e outros bens. "A conferência discute medidas de médio e longo prazo." Segundo Izabella, embora a crise internacional possa atrapalhar uma solução de curto prazo, os países estão considerando esse fator.

Desorganização

Ontem, a confusão ainda era grande no Riocentro, principal centro de convenções do Rio e sede do evento. A entrega do credenciamento de voluntários e da imprensa, a cargo da ONU, apresentou atrasos de até três horas. Funcionários das Nações Unidas não sabiam dar informações e se irritavam com pessoas que não falavam inglês. "Desisti de ser voluntária, vou voltar para casa", lamentou a estudante Kelly Almeida. Também houve desencontro entre funcionários do Itamaraty e da ONU. O Riocentro, desde a semana passada, é considerado território das Nações Unidas, com a segurança controlada pela polícia da instituição. Alguns diplomatas acabaram barrados. O Ministério das Relações Exteriores avaliou a confusão como normal nos primeiros dias da conferência.

Nada de Obama

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, liderará a delegação dos Estados Unidos na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável Rio20, entre 20 e 22 de junho, no Rio de Janeiro. Hillary será acompanhada pela chefe da agência americana para o Meio Ambiente, Lisa Jackson, e pelo enviado especial para a mudança climática, Todd Stern.

Em defesa dos oceanos

Ressaltada pela ministra Izabella Teixeira como uma das possíveis novidades da Rio20, a preocupação com os oceanos foi o destaque da fala de Jean-Michel Cousteau no TEDxRio20, evento paralelo de palestras de personalidades. Não podia ser diferente, já que o ativista ambiental é filho do oceanógrafo Jacques Cousteau. Jean-Michel lembrou que o mundo tem um sistema de água único e que o descarte de materiais poluentes em uma parte afeta todo o globo.

"Quatro mil crianças morrem por dia no mundo devido a falta d"água ou água poluída. Não podemos depender dos políticos para mudar isso", cobrou. "O aquecimento do oceano é um fenômeno mundial, causador de tormentas e furacões. Temos que nos preocupar com isso."

Ainda sobre o tema, o pesquisador Tony Haymet, responsável pela maior rede de estações de monitoramento de gases do efeito estufa do mundo, o mesmo investimento feito para explorar o espaço deveria ser feito para conhecer o fundo do mar. Ele citou o financiamento dado pelo cineasta James Cameron, que permitiu o envio de uma sonda ao Mariana Trench, o lugar mais fundo do mundo. Localizado entre duas placas tectônicas e maior, em profundidade do que o Monte Everest, o Mariana está a duas horas de distância de descida da superfície terrestre. "Os oceanos precisam ser conhecidos. Não podemos abusar tanto deles como estamos fazendo. Eles são nossos amigos", defendeu.

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